segunda-feira, 30 de abril de 2012

E se eu lhe falasse, falaria que não lesse.

E, se bem a conhecesse,
Saberia o quão difícil é decidir
Por quais sentimentos ficam
E quais se devem ir
como água que escorrega rua abaixo
e a folha que cai, desamparada.

Verde, amarela, vermelha:
Qual é a ordem mesmo?
Como saber, não?
Se os olhos de fotografia poderiam ser seus,
Se sua poderia ser a voz que pergunta,
Mas ninguém responde.

Se fosse tão simples fazê-lo,
Tão fácil escrever aqui,
Ela estaria, em pessoa,
Pronta a desperdiçar mais um bocado de palavras.
Pronta a abrir os braços, desentrelaçar os dedos,
desencravar as unhas já roxas de frio

E deixá-lo ir.
E deixá-los irem.
E se fizesse diferença
seria pra quem? faria pra quem?
Ela sabe que não devia fabricar coisas tais,
Só que bem que queria que aqueles braços fossem seus lugares.

domingo, 8 de abril de 2012

Enquanto isso, no saguão de um correio qualquer:

Não importava se se demorara a dormir noite passada.
Acordou bem, embora tenha sido obrigada a lavar o rosto,
Sabe?
Passar as bochechas,
Aliviar aquele ar-sonhante que não vem sendo bem aceito pelas ruas.

Ela cheirava a sonho, devo dizer.
Precisava mais do que perfume para ter cheiro-de-rotina.
Talvez café...
Antes de sair pelos fundos, passou pela cozinha carregando seus sapatos
E quase derrubou uma xícara que fumegava cotidiano.

E se lembrou que não era semana,
Ótimo dia para telegramar, não?
Deixou os sapatos e os livros junto da soleira
E de meias correu até a esquina,
Até o correio.

Parou à porta desse
Pensando no telegrama.
Mas lhe acometeu que o destino era inexistente;
Digo, incerto;
Digo, desconhecido.

Desistiu. Lia-se no chão por ela pisado:
"Apareça logo.
Do contrário, meus poemas serão sempre os mesmos."
O destino era.
O destinatário não.