quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Again. Again. Again.

Por que alguém continuaria algo com a certeza do insucesso do resultado?
É isso que me pergunto
todos os dias.
É com isso que pesadêlo
todas as noites.
É isso que tenho obrigado a preencher
todas as tardes.

I'd like to be under the sea in an Octopus's garden,
mas eis-me aqui.
Aqui estarei amanhã, depois,
até que eu coloque meus tênis mais bonitos e saia por aí.
até que essas cartas fechadas por giz-de-cera derretido me levem pra viajar.
até que rodopiando, rodopiando, rodopiando, rodopiando, eu entre em órbita.

E não mais volte.
Faria falta?
Seria um ótimo desfecho. Isso sim.

Mas, isso é o oposto daquilo que espero.
Que tenho tentado todos os dias.
Ficar perto das pessoas.

Aqui estarei amanhã, depois…
Porque aqui estou hoje.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

"Um chamado João"

João era fabulista?
fabuloso?
fábula?
Sertão místico disparando
no exílio da linguagem comum?

Projetava na gravatinha
a quinta face das coisas
inenarrável narrada?
Um estranho chamado João
para disfarçar, para farçar
o que não ousamos compreender?

Tinha pastos, buritis plantados
no apartamento?
no peito?
Vegetal êle era ou passarinho
sob a robusta ossatura com pinta
de boi risonho?

Era um teatro
e todos os artistas
no mesmo papel,
cirando multívoca?

João era tudo?
tudo escondido, florindo
como flor é flor, mesmo não semeada
Mapa com acidentes
deslizando para fora, falando?
Guardava rios no bôlso
cada qual em sua côr de água
sem misturar, sem conflitar?
E de cada gôta redigia
nome, curva, fim,
e no destinado geral.
Seu fado era saber
para contar sem desnudar
o que não deve ser desnudado
e por isso se veste de véus de novo?

Mágico sem apetrechos,
civilmente mágico, apelador
de precípites prodígios acudindo
o chamado geral?
Embaixador do reino
que há por trás dos reinos,
dos podêres, das
supostas fórmulas
do abracadabra, sésamo?
Reino cercado
não de muros, chaves, códigos,
mas o reino-reino?

Por que João sorria
se lhe perguntavam
que mistério é êsse?
E propondo desenhos figurava
menos a resposta que
outra questão ao perguntante?

Tinha parte com...
(sei lá o nome)
ou êle mesmo era
a parte de gente
servindo de ponte
entre o sub e o sôbre
que se arcabuzeiam
de antes do princípio,
que se entrelaçam
para melhor guerra,
para maior festa?

Ficamos sem saber o que era João
e se João existiu
deve pegar.

21.11.1967 - por Carlos Drummond de Andrade, publicado no 'Correio da Manhã' 3 dias depois da morte de João Guimarães Rosa. Dois amados.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

TCC - Teoria Circunstancial do Caos

CHAOS.
Muito mais bonito do que simplesmente 'caos'.

Tanto me ocorreu entre ontem e hoje.
Mas, nada que eu tenha de fato vivido.
Isso continua assim...

Bom que nada atrapalha. Isso aqui.
Ainda que muita coisa já faça isso.

E és assim, um aglomerado de coisas.
Caótico. Nada simples mesmo.

Um ronronar de películas.
Um desenhar de sons desconhecidos.
Um emprestar de paixões. Mas, só daquelas platônicas.

Por enquanto.
Pois, se tiveste a sorte, yo no la tuve.

Sorry, dude.
The end.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Desejo Primeiro:

Eu queria querer de um jeito tão inconsequente a ponto de não mais respirar.

O que devia ter sido feito. E não foi.

Eu só preciso esquecer de certas coisas,
talvez desistir delas.

Porque eu quero ficar mais perto das pessoas.

Mas, isso,
Só depois de arrumar meu armário.